domingo, 5 de janeiro de 2014

Denominações de Origem

Quando falamos em denominações de origem no velho mundo, parece que estamos falando de algo tão antigo quando o próprio vinho, mas, na verdade, as denominações de origem são recentes, do século XX. Vamos a um pouco de história.
A falsificação de vinhos sempre ocorreu, porém as causas de uma epidemia de falsificações, em especial na França, iniciou em 1863, ano em que a Phylloxera vastatrix chegou ao país em um carregamento de mudas oriundas dos Estados Unidos. O inseto quase microscópico ataca as raízes das videiras Vitis vinífera, que não tem resistência e o resultado é a morte da videira. Nas décadas de 1870, 1880 e 1890 os vinhedos europeus foram dizimados, na França entre 1870 e 1900 a área de cultivo caiu 64%, mas a procura pelos vinhos não diminuiu, na verdade aumentou e o resultado foram as falsificações. “em 1880, os laboratórios municipais de Paris testaram 300 amostras de vinhos comprados em diversos bares da cidade, descobriram que 225 haviam sido seriamente alteradas, 50 levemente alteradas e apenas 25 eram vinho puro” (KRAMER, 2007 P.72). As falsificações eram facilitadas pois na época a maioria dos vinicultores não envasava seu vinho, simplesmente o vendia para os comerciantes de vinho que o compravam, faziam cortes (misturas) ao gosto dos consumidores, engarrafavam,  e, envelheciam em suas adegas. O nível das falsificações no final do século XIX provocou a ira dos produtores, em especial os de Champagne. Os acordos não eram respeitados e a fraude era organizada, cerca de 12 milhões de garrafas eram rotuladas a mais do que a região podia produzir. Em 1911 os viticultores de Champagne não aguentaram mais e saíram as ruas de Aÿ, uma pequena cidade da região, e saquearam as casas suspeitas de comprar vinhos de fora das fronteiras tradicionais do distrito, o protesto foi tão impactante que apenas 8 semanas após o conflito, o governo estabeleceu a definição legal das fronteiras de Champagne e confirmou o uso do valioso nome apenas para os produtos exclusivamente oriundos daquele distrito. Mas, somente em 1923, após a Primeira Guerra Mundial, foi dado o primeiro passo em direção a verdadeira mudança, em Chânteauneuf-du-Pape pelo Barão LeRoy do Châtau Fortia, os produtores da região se responsabilizaram pela delimitação do território, pelas definições legais das variedades de uva, métodos de cultivo, grau de maturação entre outros elementos importantes para a autenticidade e qualidade dos produtos.
Raízes de videira atacadas pela Phylloxera

As Denominações para os vinhos europeus foram importantes, principalmente por sua consolidação veio juntamente com o boom econômico da Europa, por volta de 1960. A nova classe média europeia estava disposta a viajar, a abertura das autoestradas foi uma mina de ouro para produtores da Borgonha que estavam na rota de dinamarqueses, holandeses , alemães e suíços para o Sul da França, também a região do Loire se beneficiou do turismo. Na Itália, os próprios italianos passaram a viajar pelo país descobrindo seus vinhedos e vinícolas e se dispuseram a pagar mais pela autenticidade de seus vinhos. Também começaram a surgir os Clubes de Vinho que deram oportunidades a produtores pequenos.

Selo da IP Pinto Bandeira
Esta é apenas uma das histórias de estabelecimento de denominações de origem e de como esta certificação pode auxiliar no combate a fraudes e falsificações, mas é um processo lento. Aqui no Brasil já temos algumas Indicações Geográficas (que se subdividem em Indicações de Procedência – IP e Denominações de Origem – DO), mas são ainda bastante jovens e é preciso que as associações que regem estas Indicações tenham o cuidado de não transformá-las em meros chamarizes para ampliar o valor dos produtos. É preciso também ter cautela e não precipitar ou acelerar processos de delimitação de Indicações Geográficas, tendo o cuidado de  valorizar as características do território,  principalmente, por tratar-se de um produto que pode levar alguns anos para ficar pronto para o mercado. 

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