Quando falamos em denominações de origem no velho mundo,
parece que estamos falando de algo tão antigo quando o próprio vinho, mas, na
verdade, as denominações de origem são recentes, do século XX. Vamos a um pouco
de história.
A falsificação de vinhos sempre ocorreu, porém as causas de
uma epidemia de falsificações, em especial na França, iniciou em 1863, ano em
que a Phylloxera vastatrix chegou ao
país em um carregamento de mudas oriundas dos Estados Unidos. O inseto quase
microscópico ataca as raízes das videiras Vitis
vinífera, que não tem resistência e o resultado é a morte da videira. Nas
décadas de 1870, 1880 e 1890 os vinhedos europeus foram dizimados, na França
entre 1870 e 1900 a área de cultivo caiu 64%, mas a procura pelos vinhos não
diminuiu, na verdade aumentou e o resultado foram as falsificações. “em 1880,
os laboratórios municipais de Paris testaram 300 amostras de vinhos comprados
em diversos bares da cidade, descobriram que 225 haviam sido seriamente
alteradas, 50 levemente alteradas e apenas 25 eram vinho puro” (KRAMER, 2007
P.72). As falsificações eram facilitadas pois na época a maioria dos
vinicultores não envasava seu vinho, simplesmente o vendia para os comerciantes
de vinho que o compravam, faziam cortes (misturas) ao gosto dos consumidores, engarrafavam,
e, envelheciam em suas adegas. O nível
das falsificações no final do século XIX provocou a ira dos produtores, em
especial os de Champagne. Os acordos não eram respeitados e a fraude era
organizada, cerca de 12 milhões de garrafas eram rotuladas a mais do que a
região podia produzir. Em 1911 os viticultores de Champagne não aguentaram mais
e saíram as ruas de Aÿ, uma pequena cidade da região, e saquearam as casas
suspeitas de comprar vinhos de fora das fronteiras tradicionais do distrito, o
protesto foi tão impactante que apenas 8 semanas após o conflito, o governo
estabeleceu a definição legal das fronteiras de Champagne e confirmou o uso do
valioso nome apenas para os produtos exclusivamente oriundos daquele distrito.
Mas, somente em 1923, após a Primeira Guerra Mundial, foi dado o primeiro passo
em direção a verdadeira mudança, em Chânteauneuf-du-Pape pelo Barão LeRoy do
Châtau Fortia, os produtores da região se responsabilizaram pela delimitação do
território, pelas definições legais das variedades de uva, métodos de cultivo,
grau de maturação entre outros elementos importantes para a autenticidade e
qualidade dos produtos.
Raízes de videira atacadas pela Phylloxera |
As Denominações para os vinhos europeus foram importantes, principalmente
por sua consolidação veio juntamente com o boom econômico da Europa, por volta
de 1960. A nova classe média europeia estava disposta a viajar, a abertura das
autoestradas foi uma mina de ouro para produtores da Borgonha que estavam na
rota de dinamarqueses, holandeses , alemães e suíços para o Sul da França,
também a região do Loire se beneficiou do turismo. Na Itália, os próprios italianos
passaram a viajar pelo país descobrindo seus vinhedos e vinícolas e se
dispuseram a pagar mais pela autenticidade de seus vinhos. Também começaram a
surgir os Clubes de Vinho que deram oportunidades a produtores pequenos.
Selo da IP Pinto Bandeira |
Esta é apenas uma das histórias de estabelecimento de denominações
de origem e de como esta certificação pode auxiliar no combate a fraudes e
falsificações, mas é um processo lento. Aqui no Brasil já temos algumas
Indicações Geográficas (que se subdividem em Indicações de Procedência – IP e
Denominações de Origem – DO), mas são ainda bastante jovens e é preciso que as
associações que regem estas Indicações tenham o cuidado de não transformá-las
em meros chamarizes para ampliar o valor dos produtos. É preciso também ter
cautela e não precipitar ou acelerar processos de delimitação de Indicações
Geográficas, tendo o cuidado de valorizar
as características do território, principalmente,
por tratar-se de um produto que pode levar alguns anos para ficar pronto para o
mercado.
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